Terceira peça
Como a peça era a tarde, chegamos cedo ao teatro. Cedo o suficiente para que o Haus ainda estivesse fechado. Tanta antecedência assim não nos é comum. Na verdade, esse antes era pouco de vinte minutos da hora de começar. Por aqui, tudo é tão objetivo que não há motivos para imaginar que algo acontecerá e surpreenderá. A rotina está segura e cinco minutos é o suficiente para dar conta dos horários. Bom, brasileiros que somos, atrasados que sempre somos, corremos e prefiramos não arriscar. Teatro aberto. Ao chegarmos, já nos aguardavam. Bilhetes em mãos, produtor separado para nos acompanhar e fomos direto ao teatro deixando Thaís para revermos ao final. A estrutura da sala de espetáculo onde se apresenta Metamorfoses no. 3: Retórica é tão impressionante que o imenso palco aonde estava encenado foi improvisado com também a arquibancada para mais de duzentas pessoas sobre o palco original da sala. Pois é, o palco dentro do palco é maior e mais bem estruturado que a maioria das nossas salas no Brasil. Passado o impacto inicial, escolhemos os lugares. Patrícia faria algumas fotos em momentos em que o som da máquina não interferisse, eu, ao canto, com o computador no brilho mínimo escrevendo a Crítica Dentro. O espetáculo é uma montagem eslovena e nada tem com Kafka e sim Ovídio, o poeta grego e construtor do conceito de metamorfose. Ali, sozinho, na companhia do meu computador, sendo observado por curiosos, assisto e escrevo buscando compreender as palavras, os sentidos, as metáforas, as deformações, as transcriações de um espetáculo extremamente performativo, cuja relação com a palavra é ordem e som e com o corpo é presença e ausência. Nos próximos dias a Crítica Dentro estará disponível a todos. Avisaremos por aqui. Antes de sairmos da sala, muita curiosidade dos artistas e produção pelo como li e compreendi o espetáculo. A ação de escrever ininterruptamente durante provocou esse sentimento de desafio a eles também, afinal ali estava um crítico de outro canto do mundo. Do lado de fora, as conversas davam contam do que foi interessante e não na apresentação, enquanto eu devorava uma caneca de café, Patrícia e Michele suas Fritz Cola, na companhia de Thaís. Michele é só a Michele Moura, essa artista brilhante brasileira que conheci séculos passados em Curitiba, e que agora ganha o mundo com a dança. Uma tarde deliciosa com pessoas queridas. Corre, avisa-nos Thaisinha. Já formou a fila pra entrar. E lá fomos nós pra mais um espetáculo. Foto: Patrícia Cividanes