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Monólogo da puta no manicômio


Texto: Dario Fo

Direção e Elenco: Paula Cohen

dramamix

SP Escola de Teatro | 12/11/16 | 23h59

Estamos ali, sentadas, cheias de fios. Como conseguimos seguir com tanto humor ainda que violadas? Como é possível ignorar as 130 mulheres que são estupradas todos os dias no Brasil? A voz da doutora entoa nos nossos ouvidos. Suas perguntas nos martirizam cotidianamente. Ainda que, aparentemente, só seja possível ouvir com fones de ouvido, essa voz questionadora usa mega fones, temos certeza. A dramaturgia não nos poupa e não nos subestima. Mas como poderia? Nós já conhecemos todas as perguntas e sabemos bem o que elas esperam ouvir como respostas. Como são cruéis essas perguntas retóricas. Ah, doutora, que essa sua carinha de criança permaneça. Que o ódio bastardo dos homens não lhe perfure. Nós já envelhecemos por dentro. Temos as entranhas amadurecidas pelo tempo que ficaram expostas. Nos sentimos em casa aqui. Voltamos porque temos companheiras nesse lugar. E voltaremos sempre. Tememos que o ódio bastardo lhe cegue. Por que você nos pergunta esse tipo coisa? Ah, doutora, tememos mais as suas intenções do que a iminência do choque provocado por esses inúmeros fios. Aqui, é impossível falar somente por mim ou por ela, que diante de nós, nos representa. O feminismo é coletivo. É lindo e arrebatador que a ciranda se componha diante dos nossos olhos, com as vozes e lágrimas das mulheres que estão dentro de mim e ao meu lado. Companheira me ajuda, eu não posso andar só. Sozinha eu ando bem, mas com você ando melhor. Somos muitas. E estamos aqui, lado a lado. Dispostas a tudo e a, sobretudo, um abraço. Foi, então, que uma de nós materializou o desejo de todas. Foi até ela, ali, e lhe abraçou forte. Estamos juntas. Nenhuma a menos.

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