A Garota dos Estudantes
Texto: Lucas Arantes.
Direção: Alcimar Santos
Elenco: Isabella Silvestre, Maeli Putti, Patricia Pacheco, Fernando Cardoso e Lailson Nunes
SP Escola de Teatro | 12/11/16 | /23h40
O que estabelece verdadeiramente um desejo não pode ser definido com exatidão, nem mesmo por que o sente. Alguns parecem mais evidentes; outros, dada a profundidade de sua manifestação, impossíveis de serem entendidos. Ainda assim, existem e se colocam. Invadem alguém e transbordam aos demais sem permissões. E desejar, seja o que for, acaba por traduzir com mais intensidade aquilo que o próprio desejo mascara. Em A garota dos estudantes o desejo provém de uma perda que se descobre não ter sido apenas de alguém, mas por existir sempre. Vingar-se como, porém, se quem se quer atingir não mais está? Nelsonrodrigueaneamente, a vingança parte sobre quaisquer outros, apropriando-se de seus desejos mais ordinários, os sexuais, como mecanismo de ativação. Ao final, trata-se de passar adiante o recebido, de tornar pelo corpo que se corrói escondido em vírus. Mas isso não significaria exatamente uma vingança, se pensado que o doente, em seu desespero, torna mais próximo tantos outros ao seu próprio universo, igualando-os em sua condição. Fazer disso um discurso teatral é igualmente um desejo, então. Também um modo de aproximação pela cena, corpo-cena, a dimensão de um pensamento sobre nossos fracassos e abandonos. É compreensível, portanto, que a história seja escrita, tanto quanto encená-la. No entanto, está no desejo da realização o dilema. O espetáculo acaba respeitoso demais aos interesses das palavras, limita-se a ser sua face, enquanto poderia construir por si só um lugar singular de completude. Faltou desejar inventá-lo e não somente representá-lo, e assim superar as palavras com algo mais que nelas não cabem existir, a presença. Com uma ressalva inesperada: Patrícia Pacheco, cuja maneira com que constrói narrativamente as subjetividades de sua personagem aponta, desde já, ser ela uma boa promessa ao teatro.