Eram Palhaços e Homens de Carne e Sangue
Texto: Ricardo Vizinho e Cia. Metáfora
Direção: Ricardo Vizinho
Elenco: Camila Rodrigues, Ingrid Taveira, Thais Dias e Orquestra Popular de Bolso
Espaço Parlapatões | 13/11/16 | 17h
Eram dois palhaços em corpos e olhares femininos. Dois rostos que quando se olhavam, pareciam enrubescer por dentro. Apesar da melancolia própria do palhaço, essa foi a primeira vez que me dei conta de porque os seus olhos são tão tristes: é que eles refletem a imagem de nós, homens de carne e sangue. De nós, público, que se não aparecermos, tornamos sua existência insuficiente. Como pode ser cruel um público! Mas e do que são feitos os palhaços? Que matéria é essa que transita entre a melancolia e a alegria? O teatro pode existir sem público? O que acontece com o medo e a angústia que mergulham os atores antes de entrarem no palco, quando diante deles não há ninguém? “Eram Palhaços e Homens de Carne e Sangue” diz também sobre essa saga cotidiana do ator que precisa sempre do entorno para existir. Desse ator que tem os pés curtidos de tanto correr pelas calçadas, palcos e ruas. Desse ator que busca o outro para afirmar sua existência. E se o público nunca vier, é sempre o primeiro de todos os conflitos. Se ele não vier, nós iremos? Catavento parece não suportar a espera e vai pra rua, em busca dos caminhos tortuosos. Segue nu, despido de toda essa caricatura que o conduzia até aqui. Catavento, provavelmente, se tornará um artista de rua. E o que cabe à Alegria que permanece ali, no palco vazio? Naquela noite havia público, mas e quando não houver? A Alegria vai pra rua? Que a carne e o sangue sempre transbordem os teatros. Há muita vida do lado de fora, é preciso percorrer a entortada estrada. Mesmo que nunca haja um grande final.