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O Grito


Texto: Alexandre Cruz

Direção: Alexandre Cruz e Howaedinne Queiroz

Elenco: Livia Carvalheiro, Larissa Nunes e Lucas Vieira da Costa

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Restaurante La Barca | 14/11/2016

Um grito irrompe, as figuras despertam. Dispostas ao longo de um restaurante estreito funcionam como bóias de atenção. Discordam retoricamente até terem evidenciadas suas determinações ideológicas. Isto nos lembra que a mudez pode ser elemento fundamental na relação de seres dissonantes. O texto obtém sucesso em fazer surgir o desenho das personalidades e suas percepções de mundo, através de pontuais direcionamentos sutis.

Cada fala (ao que parece) casualmente repousada na trama encontra efeito desejado quando a adiante temos decodificado o enigma primeiro até que haja o desmonte da sensação de “papo-furado”.

O que se vê é um mais intuitivo do que rigoroso diálogo de gêneses. O autor joga com as essências arquetípicas e no lugar de “curvas dramáticas” enxerta certo nível de reflexão poética, isto faz a trama correr esvaziada de ação, mas, entretanto, com a enunciação do espaço onde estamos (Praça Roosevelt), tudo se elabora enquanto agudo apontamento da urgência do material.

“O grito”, as perguntas sem resposta e os meneios líricos tomam fôlego para alcançar o ápice (que se faz desfecho também). Como laço final, o autor contradiz a personagem fundadora da assembléia, coloca-a em desconfortável lugar contraditório imposto pela força dos argumentos que carregam seus debatedores, e esta, ao perceber-se menos senhora daquele grito sem dono, se vê também em descompasso com sua própria ética pretensamente combativa. A personagem adere ao silêncio e aceita “o grito” como parte inerente à paisagem indomável.

Um segundo ato fará bem ao texto que apresenta vigor para pontuar as forças oníricas da cidade de São Paulo e evidenciar seus residentes sempre a um passo dos pensamentos nobres ou das idéias cansadas.

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