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Transcuba


Texto: Alessandro Toller

Direção: Luciano Gentile

Elenco: Obsessiva Cia: Isabela Delambert e José Motta

dramamix

SP Escola de Teatro | 14/11/16 | 23h30

Faço cortes para aliviar a tensão, escancara Buck Angel. Faz-me lembrar que vivo bem com alguns deles, o que me ferem são as cicatrizes. Essa coisa com textura que me rememora a todo o momento uma lembrança costurada. Ora pela cerca de arame farpado que foi necessário enfrentar, ora pelos encurralamentos. Indiscutivelmente, as escolhas mutilam. Em “Transcuba”, revela-se o manifesto de corpos trans, que, sem dúvidas, são as encenações mais reais de si. Somos todos mutantes biológicos e estéticos. O que nos impede de ser tudo? Através de cartas, a dramaturgia tece elipses geográficas e temporais. As cartas criam comunidades, já que, em certa medida, qualquer correspondência implica uma geografia de afinidades e, nesse caso, de sexualidades. Desde a escrita sinuosa até o envelope lacrado com a saliva daquela boca coberta por um cosmético barato. Quem sabe o cheiro não atravessa o oceano e chegue até lá? Os correios são os órgãos genitais nesse encontro: são eles que recebem e destinam as tensões, os líquidos e as palavras, assino com o meu nome que não precisa ter rosto. Ele atravessa uma fronteira que eu custo me aproximar. “Transcuba” tem muito a dizer, provoca inquietações sobre aquilo que não consegue ser apreendido pelos conceitos, tampouco pelos artigos definidos. O texto habita a potência comum a tudo que abriga as qualidades da hibridez e do amorfo. Sigo querendo ver até onde essas cartas serão destinadas.

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