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Apocalipisis 3:16


de Nicolas Spinosa (Argentina)

Praça das Artes | SP | 15/11/16

“Nosso fígado resistira a tantas coxinhas?”. Com uma projeção na parede com esses dizeres Spinosa propõe uma aliteração entre coxinhas e cositas e vai além: trabalha a semântica das duas palavras, ultrapassando com sagacidade o obstáculo da língua, já que é argentino. Ele enfileira coxinhas e vai colocando uma a uma na boca. Precisa comer, vai tentando engolir, num desespero. Ou tenta, mas não suporta. Força a coxinha na boca, que se espatifa sujando a barba, caindo no chão. Força mais goela abaixo aquela massa amorfa que deixou de se parecer com coxinha. Engasga, regurgita, fagocita o que restou, vomita. Porque não consegue suportar. Estamos vivendo um momento em que uma massa amorfa nos é colocada goela abaixo e estamos tendo que agüentar, fortes, engolir sem questionar. O golpe no âmbito político foi nos empurrado goela abaixo. Mas, embora o mais falado, não é o único cuja atual realidade nos impõe. Os golpes que vamos sofrendo, no dia a dia, são resultados de uma força conservadora que cresce sem resistência. Os movimentos pendulares ao longo da história da humanidade poderiam prever isso. O problema é que não há um respiro: é só derrota e soca mais coxinha goela abaixo. As pequenas atitudes de intolerância replicadas no dia a dia criam mais ainda a convicção de que não há mais espaços para diálogos ou mesmo reflexão. Soca mais coxinha. Mas o povo uma hora se insurge, não adianta forçar. E o resultado disso pode ser trágico, ainda mais se vier numa violenta golfada, que vai atingir todo aquele que reprimiu esse desejo de ser ouvido.

Foto Maria Teresa Cruz

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