Prefiro Cinema
Texto e direção: Hugo Possolo
Elenco: Sandra Corveloni, Camila Turim, Ivo Muller e Geraldo Rodrigues
Dramamix
SP Escola de Teatro | 15/11/16 | 21h30
Atenção, que este texto tem risco de spoiler.
A dramaturgia do texto sugere a lógica de um roteiro de cinema escrito após o episódio a ser apresentado. São quatro personagens: pastor, esposa, cineasta e travesti, cujas histórias são emaranhadas na kitnet dessa última.
O humor, em si, é o que vemos nas ruas, na boca do povo, porém amarrado numa história de forma que não fique tão vulgar. Mas os temas já são “clássicos”: pastor broxa condena homossexualidade e trai a esposa com um travesti; o cara que tenta “curar” o travestismo tem no fundo uma vontade de ser comido; esposa carente desconfia da fidelidade do marido; etc.
Temos, também, os motes e a hipocrisia mais batida das figuras evangélicas, o planejamento da expansão do “Reino” para benefício próprio; uso da Bíblia para justificar os atos de fachada; o materialismo da fé de conveniência etc.
O humor não precisa problematizar tudo isso. Mas Prefiro Cinema acaba sendo uma amarração (embora boa) de algo que já está pronto e repetido, sem muitas surpresas nos 70, 80 minutos de encenação. A personagem Verônica, travesti, é o centro nevrálgico de onde tudo se embola e se revela; ela se destaca enquanto a mais resolvida dos quatro, embora isso não aconteça por construção, mas por nivelamento por baixo, uma vez que os outros três em torno dela são, nesses parâmetros, frágeis e previsíveis, a ponto de facilmente serem manipulados por sua chantagem.