Leila
Jazz nos Fundos | SP | 24/11/16
A proposta é simples como procedimento, uma colagem rítmica sobre a qual se improvisa. Um na guitarra, outro na bateria, na maioria do tempo. E a música se faz a partir de clássicos egípcios e libaneses. Ainda que não se conheça as composições, a especificidade melódica é capaz de sugerir suas localizações, com mais ou menos precisão, dependendo de cada um. Na soma entre os dois excelentes instrumentistas encontros e distâncias surgem propositadamente, o que permite evidenciar diferenças e estratégias. Enquanto a guitarra é quem nos aproxima mais rapidamente das melodias de um regionalismo que caminha entre o Oriente Médio e norte africano, aos imaginários dos desertos e das vozes em canto; a bateria sustenta a força de uma presença impositiva que muitas vezes escapa a essas sensações, provocando um deslocamento interessante de modernidade, contaminação e sobreposições culturais. Ouve-se vozes gravadas como de um filme antigo, outros detalhes de ambientes. E a música parece mesmo sobrepor-se à mulher em uma tentativa de diálogo furioso e, talvez, apaixonado, em um movimento crescente de aproximação e provocação. Uma única melodia que persiste aos trinta minutos ou mais, não importa, enquanto ouvir parece participar de um enigma delicioso em forma de som.
crédito fotográfico não informado