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Confissões de um bolsita CAPES


De Manuel Lima CCSP | SP | 26/11/16

Acomodado atrás do púlpito, Manuel Lima inicia as imagens no telão ao fundo e começa sua fala, enquanto estrutura sons e a presença do tom vermelho que invade a tudo. A conjunção de elementos poderia ser exagerada, mas nada está ali para dar demasiada explicação, e o importante mesmo surge naquilo que vem pelo dizer. Aos poucos, o palestrante narra sua condição de bolsista no doutorado e os paradoxos que surgem no cruzamento entre servir-se do governo e colocar-se à margem das vontades servis ao Estado. Poucas vezes, ou quase nunca, tal relação é problematizada em público, salvo em rodas particulares e conversas aleatórias. Ditas assim, as relações com o conhecimento e a formação invadem o espaço do diálogo para se assumirem criticamente e insolúveis. Elaborando argumentos que tendem a quem se utiliza do mecanismo e dos que julgam seus usuários, Manuel provoca um fluxo de ideias que se interligam de modo falsamente aleatório, até chegar ao ponto de não mais fazer qualquer sentido aceitar espaço ao diálogo. A tela esconde as imagens em pulsos vermelhos cada vez mais presentes, o som rodeia a fala como condutora de estados ao palestrante e não como trilha de acompanhamento, e o que se tem é um alguém aprisionado entre o querer, o não querer e as especificidades impostas por muitos lados e argumentos. Ao criar esse movimento de exposição que não se sabe ser real, e nem importa sabê-lo, Manuel subverte a lógica da precisão cientificista e atua na esfera de uma performance sem impacto cênico, porém tornando a intelectualização um movimento estético de presença. Por revelá-lo fundamentalmente por argumentos e contradições, a voz assume a face final da perspectiva dessa estética, portanto. E voz é som, tanto quanto ruídos e músicas. Assim, ao ser apresentado uma palestra, uma fala, um dizer em festival como o Música Estranha, acerta-se de forma especial ao tornar o pensamento reflexivo também uma espécie de sonoridade. Pensar como um movimento sonoro. Bom, as sinapses são ruidosas, já se sabe. Então tudo realmente parece fazer um louco sentido. Fosse outro contexto, a percepção sobre a apresentação certamente seria diferente. Ao estar no festival, lembra Henri Atlan e sua explicação sobre a subjetivação do sujeito através do aprendizado pelo ruído. Em outras palavras, aproximando a Manuel, pelo pensar como ruído. Essa melódica condição de revisão sobre si mesmo. De fato, uma das grandes boas ousadias do festival. Crédito fotográfico não informado.

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