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Playground

Texto: Rajiv Josef

Direção: Marco Antônio Pâmio

Viga Espaço Cênico

No tempo dos projetos insólitos, dos atores que vivem jornada dupla de trabalho (até tripla), é raro ver gente realmente feliz consigo e com seus resultados. Playground é um destes raros momentos do teatro brasileiro. E satisfação é um elemento que enriquece a cena.

Os atores não sofrem durante a execução das bem dosadas partituras, ao contrário, cavalgam altivos pelos eixos da carismática dramaturgia e da organizada direção. A luz, como inteligente esteio para os sentidos da cena, também merece destaque. Neste ponto está o mapa para perseguirmos a fábula. E é na luz onde está guardada a chave para aceitarmos pacificamente a direção.

O eficiente desenho de luz opera o transe do corte de maneira a solucionar estados emocionais, marcas e ilusões cênicas. Tudo isto faz de Playground um notável e bem equipado espetáculo voltado ao teatro, em geral, defendido pelo merecidamente consagrado e sempre necessário Grupo Tapa.

Quando uma forma parece confortável diante do tema que trata, e um enredo apresenta-se tranquilo dentro das soluções dos intérpretes e da direção, não é arriscado dizer que temos em mãos um material que não pertence criticamente ao tempo presente.

Seria desonesto dizer que tal descompasso compromete a lógica interna do trabalho , assim como seria intermitente forçar o trabalho a trocar seu contexto para caber nas avaliações deste texto.

Com isto, quero dizer que é preciso esforço para olhar a obra como o que ela é e como não nega ser. Inclusive, como está satisfeita sendo - ou seja, um teatro bem realizado, resolvido por mãos caprichosas de criadores com senso estético similar entre si.

Temos aqui um melodrama pautado por ideais nítidos e execução ponderada. Há no palco uma perfeição que incomoda a cada final de cena. É um tipo de perfeição que acontece para esconder imperfeições inerentes. Então, como num jogo de acertar ponteiros durante a manhã, para dissimular que vivemos um momento da madrugada, a montagem se convence de que é urgente emocionar.

A fábula, tão pertinente e bem balizada nas nuances íntimas de todos nós seres humanos em busca de troca afetiva, encontra no Brasil atual um então desarticulado interlocutor. É como se a forma da obra driblasse a geografia política onde está inserida.

Para a plateia resta viajar dentro de uma história que terá fim. Para os intérpretes resta o acertado encontro que acena, faço votos, em direção a um teatro mais bruto, imperfeito, desencantado, ou que possa desembestar por vias mais transgressoras, arredias, atuais e autorais.

Para olhos atentos às conexões internas de um trabalho que se lança ao mercado de teatro, talvez a resposta para estas especificidades técnicas esteja na troca da terminologia "grupo" pela função "produtores associados”.

Nesta perspectiva, que pode vir a orientar todo um trabalho de arte, seria impossível não elencarmos duas perguntas diante dos artistas que, de agora em diante, tendo bem fundado seu primeiro trabalho, deverão responder se no futuro serão um grupo para tornarem-se senhores de escolhas mais arriscadas, ou, para fracasso ideológico, se serão produtores para manterem-se sempre seguros atrás de obras bem acabadas , bem realizadas, mas sempre ocultando uma potência maior e menos reticente.

foto Leekyung Kim

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