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Cachorro Enterrado Vivo

Direção: Marcelo Fonseca

SP Escola de Teatro, SP

Pertinente atuação que de forma racional atrai cada uma das instância ao redor de seu corpo. Interpretar, ao contrário de atuar, é a qualidade que alguns atores demonstram ao entender as ideologias criativas ao seu redor e, sem uma recusa, transformá-las em ação através de sua atmosfera. O bom ator é aquele capaz de redimir toda uma produção, não que neste caso houvesse redenção em suspenso, mas, como exemplo, vale recordarmos que um texto, na boca de um ator descomprometido com as possibilidades que sua função carrega, morre. Uma boa direção, sem um ator que a execute, naufraga. Leonardo Fernandes é um destes raros atores que nos faz retomar o sentido ancestral da palavra "criatividade". Seu cachorro é um perene atentado à caricatura, atravessa o marco divisório e instaura um comentário físico sobre o que pode ou não haver de humano em cada uma das coisas que nomeamos por bicho ou coisa. Leonardo não se equivoca nas dosagens estéticas. A direção utiliza-se bem da energia do ator e propõe economias que preservam a qualidade das interpretações. Todo o ambiente constrói o imaginário e ainda que a dramaturgia organize alguns não-lugares, o corpo do ator estabelece os laços narrativos que tornam impossível a nossa desconexão com o trabalho e sua geografia. O trabalho formalmente estabelece um sentido épico que com técnica visita também o drama. Leonardo modula como um diálogo as instâncias narrativas do texto (épicas) e da ação presente no corpo e no tempo das cenas (drama). O corpo dramático encontra a forma épica e jogado neste trânsito é que surge o grande trabalho deste pertinente artista. O bom ator estabelece tendências que serão mais ou menos identificáveis nos trabalhos de seus contemporâneos. É indeterminado vislumbrar que outros trabalhos seguirão a linha proposta por Leonardo, entretanto, a sedução de seu trabalho parece oferecer saída artística que equilibraria a profusão de monólogos que acontecem antes por determinação econômica do que em detrimento de algum discurso estético pertinente. No caso de Cachorro Enterrado vivo o que temos posto é um trabalho que nasceu para ser o que é. Que acontece assim porque é disso que constitui-se sua espinha dorsal. Um trabalho sincero em suas provocações. Um trabalho que exibe consciência para com sua responsabilidade com o teatro. Uma área de debate livre sempre mediada por uma estética que toque o contemporâneo e ofereça formas subjetivas de pensarmos a vida em sociedade, é o que nos pede o teatro e é o que esta afinada produção nos oferece.

foto Lia Rodrigues

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